Há vários anos, um enxadrista
português que conversava com outros companheiros dos 64 quadrados disse: “Agora
só estudo finais!”
Alguém com mais coragem disse:
“Para quê cara? Tu nunca chega no final!”
O pensamento de muitos
enxadristas que se maravilham com o estudo de variantes e mais variantes de
aberturas, temas táticos, estratégia, quando se fala nos finais dizem não ter
paciência para estudar, toma muito tempo… aí num torneio chegam num final ganho
e não conseguem mais que o empate, chegam num final de empate e “conseguem”
perder.
Eu não tenho um domínio perfeito
dos finais, mas tem o básico que qualquer enxadrista deve saber. Na minha experiência
de vários anos jogando torneios, observei as dificuldades que alguns
enxadristas têm em dominar a técnica dos finais (e não falo apenas de
enxadristas com rating baixo, tem alguns bem fortes que deviam saber mais do
que mostram). Por isso decidi escrever de uma forma simples algumas
considerações sobre o tema, esperando que isso represente um contributo
positivo para a comunidade de leitores.
Vou começar pelos finais de torre
mais elementares pois são dos que muitas vezes temos de enfrentar e onde
existem posições básicas que, ou você sabe ou não sabe. Não adianta tentar
descobrir a pólvora quando já alguém a descobriu!
Torre e peão contra torre
Vamos dividir este final em duas
partes: (I) O rei defensor controla
a casa de coroação do peão e (II) O rei defensor não controla a casa de coroação do peão.
(I) O rei defensor controla a casa de coroação do peão
Neste caso, se jogam as negras forçam o empate de imediato com 1. …, Ta6 impedindo o rei branco de chegar à 6ª linha (este é o método defensivo mais simples); 2. e6; Ta1 pois se agora as brancas jogarem Rf6 a torre negra tem o xeque em f1 que impede as brancas de progredir na posição.
Se forem as brancas as jogar é um
pouco mais complicado: 1. Rf6 (agora já não serve Ta6+ devido a 2. e6 ameaçando
mate e se as negras jogarem 2. …; Ta8, decide 3. Th7); 1. …; Te1 (este é
de novo o melhor método de defesa) 2. Re6 ameaçando mate e obrigando as negras a
ceder a casa de coroação… 2. …; Rf8
(II) O rei defensor não controla a casa de coroação do peão
Chegamos a um momento em que o
rei defensor é obrigado a abandonar a casa de coroação devido à ameaça de mate.
Aqui há duas regras obrigatórias para conseguir o empate:
1)
Quando o rei defensor tem de abandonar a casa de
coroação deve jogar para o lado mais curto do tabuleiro;
2)
A Torre deve estar o mais longe possível do peão
adversário (lado mais longo do tabuleiro) para que os xeques sejam eficazes.
No exemplo acima, depois de 2. …;
Rf8 segue 3. Tb8+; Rg7 4. Te8 (para poder avançar o peão já que depois de 4.
Rd6; Rf7 o peão não pode avançar e se 5. Tb7+, Rf8 6. Re6, Te2 as negras não
enfrentam qualquer problema), mas com 4. …; Ta1! (a Torre no lado mais longo do
tabuleiro) as brancas não encontram nenhum esconderijo eficaz contra os xeques (5.
Rd7; Ta7+, etc.) e se 5.Td8 as negras jogam 5. …; Te1 impedindo o peão de
avançar.
Na próxima semana em Finais (II) vamos
mostrar mais alguns exemplos que justificam a utilização destas regras.
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